terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um Artista Vazio

Acordou tarde naquela manhã nublada. O ar frio entrava pelas janelas do apartamento entulhado de obras não-publicadas, feitas por ele mesmo. Quadros pintados, empilhados em vários cantos, poesias não acabadas em cima de sua mesa. Andou até o banheiro e fitou seu reflexo, desanimado. Os olhos vermelhos, circulados por olheiras, o olhar vago e a barba ainda por fazer. Em baixo das estantes cheias de livros de variados assuntos, em sua escrivaninha jazia um artigo de opinião que ainda tinha terminar para o jornal. Qual era o assunto mesmo? Deixa pra lá... A bebedeira no pub de ontem à noite ainda martelava em sua cabeça, assim como as rimas das poesias ruins declamadas pelos péssimos autores que passavam por lá. Ainda iria achar um verdadeiro poeta para ouvir e apoiar.
Passou pelo pequeno quarto cujo interior era socado de instrumentos musicais, e deu uma boa olhada nas partituras nas quais trabalhava no seu tempo livre. Ainda não estava como ele queria. Jogou os papéis no lixo. Saiu do apartamento. Caminhava pelas ruas, meio sem destino, sem perceber que seus pé o guiavam para o mesmo lugar, que ele estava passando a frequentar cada vez mais vezes. Observava as pessoas na rua. Cada um seguia com seus compromissos e sua vida... Mas onde iam todos? O que eles queriam? Ganhar dinheiro? Era só isso que os movia? Não dá para saber. Afinal, o que ele queria? No momento, uma xícara de café. Desviou seu percurso e foi, mais uma vez, à velha lanchonete para tomar uma xícara de café e comer alguma coisa. Mais uma vez na rua. Suspirou. Foi andando, perdido em seus pensamentos, sem dar atenção às pessoas que passavam por ele. Vazias. Roupas iguais, olhares sempre direcionados para frente, enquanto estavam distraídos com seus pensamentos e conversas sem conteúdo. Sentia-se só.
Mas e quanto a ele? Não queria dinheiro. Então, o que queria? Estava indo atrás de quê? Não sabia. Só queria ficar longe de multidões. Ainda tinha que terminar aquele artigo... Deixa para outra hora. Chegou onde queria estar. O parque no meio da cidade era vasto, verde e belo. Sentou-se mais uma vez naquela mesma pedra, em frente a o riacho ruidoso. E ficou observando a água passar, indo embora, sem saber para onde... Quanto tempo se passou desde que ele se sentou lá, em completa solidão e calma, no meio da correria frenética e sem sentido dos outros, nem ele sabe. Afinal, para que iria contar? Para ter outra coisa com a qual se preocupar? Para ter que se preocupar com quanto tempo ele reserva para si mesmo? Ridículo. "Uma vida regida por ponteiros é para os outros, não para mim." O riacho... O riacho movia algo dentro dele, que o fazia sentir-se bem. A sensação de vazio se tornava melhor, simplesmente por passar tardes inteiras fitando a água corrente. Relaxante... Indo, sem hesitar, para longe. Indo embora. E, mais uma vez, a noite cai. E, mais uma vez, ele vai até aquele pub fedorento. E, mais uma vez, ele ouve poesias ruins. E ele ainda tinha que terminar o artigo... Depois faria isso... Só mais uma poesia...

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